quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A Cidade Mãe e seus contrastes


             No dia 04 de novembro, pela primeira vez coloquei meus pés em solo sul-africano, e deste então, tenho vivido experiências incríveis nesta terra cheia de contrastes culturais, história forte e de luta, diferentes povos, vários idiomas e paisagens de tirar o fôlego da “Cidade Mãe”, como é conhecida a Cidade do Cabo.      

          Quando meus olhos avistaram a pequena península da Cidade do Cabo emergindo entre o mar e as montanhas, meu coração bateu forte e ansioso para ver todas aqueles monumentos e paisagens naturais impressionantes que tinha visto na internet em minhas pesquisas. Porém, o meu primeiro contato saindo do aeroporto foi totalmente o contrário. Os barracos construídos na beira da rodovia, crianças brincando em meio a terra batida e gambiarras de eletricidade, conturbando a paisagem, me deram as boas-vindas.     
    
                       



         No caminho para onde iria ficar hospedada, fui apreciando cada paisagem e movimento pela janela do carro e fui tomada por um turbilhão de sentimentos. Alguns de reflexão e preocupação e outros de alegria e entusiasmo para ver mais. Desde então, soube que minha estada na cidade seria de muitas emoções e questionamentos.

        O primeiro contato com o transporte público foi terrível. Com os táxis (nome dado pelas vans que fazem transporte alternativo) não foi nada legal. A maioria dos motoristas  colocam o som quase no último volume, embalados por músicas africanas, as quais nem podia entender direito, pois estão em uma das 11 línguas oficiais falada na África do Sul.  Fora as pessoas falando e muitas paradas ao longo do caminho que vão enchendo a van até não caber mais ninguém.      



           No entanto, a experiência mais marcante  foi com  os  trens.   Oh meu Deus! só para entrar no trem já requer habilidades (rs rs). Quando as portas do trem abrem, as pessoas começam a se empurrar para conseguir entrar no trem. Sempre estão lotados no horário de pico e as pessoas procuram qualquer espaço onde eles podem viajar. Seja em cima do trem, entre os vagões ou pendurados nas portas. Todos bem juntinhos, acoplados como numa lata de sardinha, mas dando espaço e voz para aqueles que pregam alguma religião ou estão a vender balas, chocolates ou frutas e verduras. Ah,  já  ia  esquecendo,  sem  contar os anúncios inusitados e   preocupantes   pregados   no  trem,   como “Confiáveis Pílulas"    para aborto” e “Aumento do Pênis! ”           
     
                                  
               A pobreza aqui é explícita, há muito morador de rua e eles estão por todas as partes. Debaixo de viadutos, perto das estações de trens, de paradas de ônibus e em qualquer lugar onde eles possam  armar suas tendas. Outra coisa triste é a divisão entre negros e brancos. Fora do centro da cidade,  nos bairros perto das praias e caros, estão os brancos, e ao redor, nos subúrbios, estão os negros. Triste saber que mesmo com toda a luta de Nelson Mandela para acabar com as diferenças entre raças, a cidade do Cabo ainda não evolui neste aspecto. As pessoas ainda se separam, mesmo que involuntariamente, por consequências de um passado cruel, cheio de dor e agressões contra os negros.     
                                                            


        Já no trabalho, a experiência está sendo incrível até o  momento. A estrutura da empresa me impressionou. Há  um restaurante café só para os funcionários e um bar para confraternização que funciona nas sextas-feiras a  partir  das 17horas, com bebidas ilimitadas, cedidas pela empresa.  Além de um ambiente multicultural. Tem pessoas de vários lugares do mundo, desde a França até o  México. Mas o ponto quando e mais gosto da empresa, é a responsabilidade social que ela tem com as pessoas necessitadas e a preservação da vida selvagem da África. Em um dos projetos da empresa, tive a oportunidade de participar da cerimônia de Natal de uma creche, em um bairro bem pobre da cidade. Ver o brilho dos olhos das crianças ao ver o papai Noel chegando com brinquedos e comida me contagiou, e encheu o meu espirito com a mais pura emoção de amor ao próximo.                                 


Responsibilidade Social Khumbulani, Rhino Africa



Julieta e Eu
   Eu não poderia terminar esse post, sem mencionar as pessoas maravilhosas com bondosos corações, que tem cruzado meu caminho. A família de angolanos que me recebeu em minhas primeiras semanas, me deu mais que boas-vindas, me adotou como parte da família... Julieta Muhongo, jamais vou esquecer nossas conversas sobre diversas religiões  e filosofia de vida. Outra pessoa que caiu do céu foi a Safyia. Ela me deu mais que um quarto e uma cama confortável para dormir. Ela simplesmente abriu as portas da sua casa e me ofereceu o carinho da sua família. Ah, além de me alimentar super bem, Safyia é uma cozinheira de mão cheia! Ela também me introduziu ao grupo " Food4homeless " que ela conduz. Que lição de vida sair pelas ruas da Cidade do Cabo distribuindo comida para os moradores derua, sejam eles negros, homossexuais, crianças, grávidas, deficientes físicos, portadores de HIV ou idosos .  A palavra obrigada é muito  pouco, para expressar tamanha gratidão e honra  que sinto, por ter tido a oportunidade de conhecer cada um e espero tê-los  para todo o sempre em minha vida.      


Food4homeless
                        Neste  2 meses, tenho aprendido muito e evoluído bastante espiritualmente. A diferencia social, a pobreza e a divisão entre raças tem deixado meu coração triste, mas logo essa tristeza vai embora com alegria de viver e a fé desse povo, além das pessoas incríveis que tenho encontrado. Sem contar, da magnitude da natureza selvagem, as belas praias cristalinas e as montanhas ao redor desta península belíssima.

Foto: Rhino Africa


2 comentários:

Redação disse...

Achei lindo o relato dessa cidade. Confesso que nunca me preocupei em saber sobre ela. Mas realmente é uma tristeza a maldade e o terror que a pobreza causa na vida das comunidades e das pessoas. Parabéns Thaty! Até a volta! Beijos!

Unknown disse...

Adorei as fotos, Thaty! Viajar é sempre bom, especialmente para algum lugar que nos mostra o quanto somos afortunados no Brasil!